É isso que eu quero!
Sabe aquele momento que vc pensa assim - é isso que eu quero! - então, este momento é tão maravilhoso que até os desafios mais difíceis parecem tranquilos e fáceis de resolver. Cuidar de pessoas significa amar, doar, reconsiderar e nunca renunciar de um ato voluntário, mesmo que este ato tenha surgido de algo involuntário.
Trabalhar com dependentes químicos é lutar contra o preconceito de toda uma sociedade que recrimina a PESSOA (nunca se esqueça disso) acometida com este tipo de transtorno. Saliento que não é pilantragem, vagabundagem e/ou falta de caráter, o fato de o usuário usar e continuar usando a sua droga de preferência mesmo sabendo das consequências oriundas de seu uso. As recaídas, não acontecem, por falta de vergonha na cara, mas sim, elas surgem de um desejo inexplicável e intolerável de fazer o uso da droga. O sentimento de frustração que vem após este trago recaído, é tão forte e degradante, que pode ser semelhante a melancolia causada por uma depressão em seu estágio mais elevado. Aprendi o que os pacientes sentem, ouvindo-os. Converse com um dependente químico que, com certeza, você irá mudar um pouco suas idéias em relação à eles.
Os pais codependentes são vítimas, não possuem culpa alguma do uso de drogas de seus filhos. Se alguém acha o contrário, me explique o por quê de uma família de três filhos que tiveram a mesma criação, educação e valores, apenas um deles escolhem essa vida para si?
"Doutor, - alguns insistem em me chamar de doutor - o que eu faço da minha vida? Doutor, eu sou um merda! Eu recaí 'de novo' pela sexta vez." Escuto frases de desespero quase todos os dias em meu trabalho. Frases que desestimulam, frases que desanimam, que destroem sonhos, mas que me estimulam a trabalhar cada vez mais e com mais afinco todos os dias.
Já que falei de meu local de trabalho, vou explicar um pouco destes recantos. Um centro terapêutico especializado no tratamento das dependencias químicas é ao contrário de que muitos pensam, um local de muita tranquilidade, camaradagem e companheirismo. Os próprios residentes se auto denominam companheiros, padrinhos e anjos. Um simples olhar, ou melhor dizendo, um inigualável olhar de um paciente me gratifica, me constrói como profissional e me edifica como ser humano. Um ser humano melhor.
Uma clínica de reabilitação não é um presídio. Uma clínica de reabilitação não um manicômio e nem um depósito de loucos como muitos pensam. Alguns internos até se dizem loucos,doidos e malucos, são malucos pela vida, pela vitória, pelos seus sonhos, pela sua família e principalmente, malucos por um desejo muito forte de viver, viver bem longe das drogas e de tudo que os levam para um poço bem fundo, onde muitos destes internos foram e não querem voltar.
Trabalhar com pessoas: é isso que eu quero!